_Prefeitura programou a maior edição da Festa de Corpus Christi de todos os tempos e incentiva tradição cultural religiosa do evento de fé e arte com recursos materiais para confecção de tapetes e diversas atrações artísticas paralelas espalhadas pelo município_
Desta vez a 75ª edição de Corpus Christi de Matão volta-se a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica de 2023, nomeada: _“Fraternidade e Fome”,_ abordada no Evangelho de São Mateus, a partir do versículo: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16).
Enquanto artistas enfeitam os quadriláteros centrais, com suas técnicas especiais renovadas, anualmente, famílias inteiras, compostas por crianças, adultos e idosos enfeitam as portas das casas, as faixadas das igrejas, solidários servem alimentos aos voluntários, que desde a madrugada se debruçam na confecção dos tapetes. Durante o dia, todas as igrejas católicas recebem centenas de fiéis para a participação nas missas; visitantes se deslumbram com um amanhecer colorido das imagens cinematográficas que retratam temas sagrados, em Matão.
O Corpus Christi da ‘Terra da Saudade’ carrega um significado espiritual e religioso, bastante profundo para a cidade, cuja atmosfera de solidariedade, fraternidade e amor inebria a multidão, que percorre os quarteirões enfeitados a contemplar ‘estupefata’ tamanha beleza, sendo ao por do sol despedaçada pelos privilegiados pés da procissão do ‘Santíssimo Sagrado’.
A história da Dona ‘Lena Bottura’, como é carinhosamente conhecida a senhora Helena Bottura Machado de 83 anos se entrelaça a origem e construção da identidade religiosa do município de Matão.
Nossa primeira personagem é filha de uma professora de língua francesa e de pai marceneiro, sendo que desde menina frequenta a Igreja Matriz. Ela conta que a origem do Corpus Christi de Matão ocorreu na década de 1950, quando um pequeno grupo de devotos católicos pensaram em ajudar o então pároco, Padre Nelson, a animar a celebração de Corpus Christi.
_“Eu tinha apenas 8 anos de idade, no início as cores dos quadros eram cinza, preto, bege, extraídas do pó de café, da areia e aos poucos fomos tendo ideias para colorir os desenhos dos tapetes. Então saíamos para colher as flores ‘bico de papagaio’, cedrinho, folha de mandioca, folha de ‘bananeira’, e minha mãe, enquanto professora, pedia aos alunos que picassem essas flores e folhagens, para usarmos na composição das imagens dos tapetes. Nós, as crianças, fazíamos uma verdadeira festa, com essa atividade”,_ emociona-se ao lembrar Dona Lena Bottura.
Mais tarde, a filha de uma professora e um marceneiro, contribuiria para colorir as artes sacras dos tapetes de Corpus Christi. _“Já na adolescência e mocidade, passei a experimentar coisas com a obstinação por extrair cores, por exemplo: usei mercúrio para colorir a serragem, o bagaço de cana, o mertiolate e assim inventamos tintas genuínas que deram vida ao ‘sagrado coração vermelho’ de Jesus ou ao ‘manto azul’ de Maria Santíssima e a pele bege do menino Jesus, cuja profundidade dos olhos verdes azulados, passou a fazer parte dos 74 quadros, hoje tradicionais, que já criei na Avenida 7 de Setembro, em frente a ‘Farmácia do Cirinho’”._
É também da Dona Lena Bottura a ideia de se utilizar vidro para trazer brilho e cores resplandecentes aos tapetes de Corpus Christi. _“Um dia estava eu fazendo um quadro, composto por Maria e José, com o menino Jesus no colo e ao lado desenhei um ‘ostensório’. Esse objeto sagrado precisava de cor, semelhante ao ouro, atribuo a Jesus a inspiração, pois, deliberadamente uma garrafa de vidro se quebrou, pensei nesta hora, que poderia moer os vidros e deles retirar o material que precisava”,_ relata a artista plástica.
Fraternidade e Fome: _“Dai-lhes vós mesmos de comer!”_ (Mt 14, 16)
Os enfeites das portas das casas, religiosamente ornamentados pelas mãos de famílias tradicionais do município, que além disso ofertam alimentação as pessoas que trabalham na confecção dos tapetes, também surgem, em meio há todos os acontecimentos da ‘festa de arte e fé, enquanto prática religiosa, e esse imersivo envolvimento explica a força da manutenção da tradição do Corpus Christi em Matão.
Para o padre Jorge João Aparecido Nahra, pároco da Igreja Matriz, _“a Festa de Corpus Christi faz ressurgir entre as pessoas uma especial motivação para a solidariedade e fraternidade, é quando vemos pastorais, movimentos e famílias das paróquias da cidade, na confecção dos tapetes a participarem das missas e assim fortalecerem a fé em Cristo Jesus ‘Pão da vida’, ou seja, traz a certeza da presença do Ressuscitado no meio de nós”,_ relembra o padre.
Voltamos nossos olhares para a ‘Rua dos Gandinis’, como é considerado um dos quarteirões da Avenida 7 de Setembro, durante o evento, tradicionalmente enfeitados pela família da Dona Cida Gandini. Isso porque o local fica repleto de crianças da catequese, coroinhas e ministros da eucaristia, que frequentam a Igreja Matriz. A matriarca relata que em todos os anos prepara um delicioso café da manhã para o deleite dos devotos mirins e demais acompanhantes.
_“Faço um café da manhã especial com bolos, chocolate quente, café, sucos, pães, sanduíches… É uma alegria muito gratificante para nossa família contribuir para passar de geração em geração a importância do Corpus Christi, que compreende um ‘Jesus Ressuscitado’ presente entre nós, e assim também poder demonstrar nossa fé para aos milhares de visitantes na nossa cidade”,_ compartilhou Dona Cida Gandini.
De maneira semelhante, a família da diretora de escola Paula Alegrâncio participa da produção de tapetes há mais de 10 anos. A catequista educou os filhos levando-os para as confecções dos enfeites de Corpus Christi a frente da ‘Igreja do Bairro Alto’. _“Meu marido, que é fotógrafo, tem milhares de registros de muitas famílias e crianças da nossa comunidade. Considero muito importante envolver as crianças e ensiná-las a pintar os desenhos, durante os preparativos para a festa”,_ comentou Paula.
Neste 2023 a edição da Festa de Corpus Christi de Matão está programada para superar as anteriores, em termos de participação popular. Mais de 70 mil toneladas de dolomitas foram disponibilizadas pela Prefeitura para que 500 voluntários tenham material suficiente na composição das obras e assim se espera que mais de 50 mil pessoas visitem o município de Matão.
Concomitantemente, a comunidade católica do Distrito de São Lourenço do Turvo (vinculada a igreja de São Lourenço) planeja confeccionar os tapetes coloridos com “dolomitas e areia, pela técnica de areiaografia”, com resgate da técnica e estilo, históricos.
Conforme considerou o prefeito Cido Ferrari, _“a festa de Corpus Christi é a mais tradicional de Matão e agrada tanto os fiéis católicos como também toda população. Por isso decidimos investir ainda mais, a fim de que esses valores da nossa história religiosa sejam compartilhados com as novas gerações”._
De acordo com o diretor de Cultura Juliano Jacopini, _“a programação artística e cultural, que ocorrerá em paralelo a ‘Festa religiosa de Corpus Christi’, pretende chamar as pessoas a participarem do evento como um todo, com atrações que resgatam musicalidades e manifestações étnicas e culturais, como por exemplo o baião, o frevo e a capoeira, assim possam envolver a todos em prol da manutenção da tradição”._
Em relação a segurança e organização, o secretário de Administração e Finanças Willian Di Gaetano Bassi, explicou: _“para manter a tranquilidade durante o ‘Corpus Christi’, as forças de segurança foram acionadas, sejam a Guarda Civil Municipal (GCM), que terá o apoio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros; o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192); equipes dos Departamentos de Trânsito e Defesa Civil; além dos vários servidores que farão atendimento de recepção e hospitalidade aos visitantes”,_ conclui.